Tudo começou com uma crise de riso.
Eu tinha 13 anos e estava ajudando minha mãe com os sanduíches naturais que ela fazia para complementar o salário da Eletrosul. A Nine, minha segunda irmã mais velha, tinha ido dormir depois de receber a visita de uns amigos que ficaram contando várias histórias engraçadas na sala de casa. Ela tinha 17 anos e estava grávida de oito meses.
De repente, a Nine chamou minha mãe para dizer que estava com muita dor. Depois de quatro partos normais (sendo um de gêmeas), acho que minha mãe percebeu do que se tratava e correu na pracinha da Lagoa para ligar: 1. pra médica, 2. pro meu pai que estava na casa da namorada.
Meu pai foi acionado lá no Campeche, ligou imediatamente para uma vizinha amiga e médica que foi lá em casa dar um apoio. Quando ela chegou, constatou que as dores eram trabalho de parto mesmo. Tentou acalmar a Nine e explicar o que fazer quando chegasse a hora.
Mas ela estava grávida só de oito meses, e a obstetra falou para ir ao hospital tomar uma injeção para inibir o trabalho de parto.
Não tínhamos carro. Algum tempo depois, meu pai e a Meri passaram lá em casa para buscar a Nine e minha mãe. Era pouco mais de meia-noite.
Era a noite mais fria de 1995. Lembro que colocaram várias meias no pé da Nine, uns três casacos, e acho que até luva e gorro. E lá foram eles para o Hospital Regional de São José, onde a obstetra estava fazendo plantão.
Eu lembro que fiquei na sala de casa com a Isa, irmã mais velha, terminando de fazer os sanduiches naturais. A essa altura os alfaces já estavam lavados e a cenoura ralada e as pastas de frango e atum já estavam prontas. Faltava montar, embrulhar e identificar os provavelmente 200 sanduiches. Acho que levamos umas duas horas para fazer o que minha mãe faria em menos de uma. Lembro que rimos bastante disso tudo.
E fomos dormir.
Lá pelas 6h da manhã, o telefone tocou (lá no início eu falei que minha mãe foi à pracinha ligar, mas era porque nosso celular tijorola¹ só recebia ligações). Era minha mãe:
– Nasceu! O Lucas nasceu às 5h25. – e não lembro mais o que minha mãe falou. Provavelmente falou as medidas dele (47 cm, 2.750 g) e que ele estava na UTI neonatal porque era prematuro.²
Lembro que depois disso terminei de acomodar os sanduiches em uma caixa enorme de isopor, e fui de ônibus entregar os sanduiches nos locais onde minha mãe vendia (acho que no Convivência na UFSC e na Eletrosul). Depois, peguei outro ônibus para o colégio.
Em todo esse trajeto, uma felicidade enorme enchia o meu peito: o Lucas nasceu, e ele é nosso! De vez em quando eu constatava isso, e dava o maior frio na barriga!
Nesse 26 de maio de 1995, uma família inteira começou a ver um novo sentido nas coisas. O Lucas representou um marco na união da Família Ferreira.
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² na hora que fui visitar o Lucas, depois da aula, fiquei sabendo que meus irmãos que ficaram em casa (Isa, Tedo e Ana) só ficaram sabendo que o Lucas tinha nascido era mais de meio-dia, quando minha mãe ligou para casa para pedir alguma muda de roupa! E eu nem pra deixar um bilhete avisando!